sábado, 4 de dezembro de 2010

Beleza em Caps Lock


Acordar não é simplesmente abrir os olhos após algumas horas inconsciente. Acordar é estimular involuntariamente as pálpebras para que elas se ergam e revelem a claridade às delicadas pupilas. Acordar é um esforço tão grande que cansa minha beleza.

Falando assim, parece até que sou narcisista — ou como chamam hoje em dia, metrossexual. Não sou. Não sou, mas penso que gostaria de ser, caso fosse mulher.

Para começar, investiria em maquiagem. Batom, blush, rouge e quaisquer outros tapa-imperfeições que dão nomes a bandas musicais femininas. De fato, enriqueceria os donos das fábricas de cosméticos, mas também tornaria rica a minha pele com tanta beleza industrializada.

O segundo passo seria fazer uma dieta. Dieta da Lua, dieta da água, dieta do carboidrato, dieta da diarreia... Tentaria de tudo para me tornar sósia da Olívia Palito e imitar a tecnologia: as televisões que afinam, os monitores que ficam mais leves e a conta bancária que fica cada vez mais lisa.

Voltaria, então, ao salão de beleza, o mesmo que rebocara meu rosto há dois parágrafos. Desta vez, porém, seria para deixar meu cabelo como o de jornalista da Rede Globo. Creme alisante, formol, esperma de pato... Para que meus cachinhos sumissem, permitiria a visita das mais inusitadas substâncias — e até abdicaria do posto de musa de cabelos de caracóis dos Irmãos Carlos.

Providenciaria, a seguir, minha cirurgia plástica para me transformar em mulher-fruta. Tiraria a roupa na frente do médico para que ele, com uma caneta co-piloto, fizesse as marcações necessárias. "Marque-me e Bismarck-me, doutor." O mínimo que ele poderia fazer siliconizar meus seios e nádegas, mas de uma forma que me deixasse aumentá-los posteriormente e ir aumentando e aumentando até que eles explodissem e eu corresse risco de morte. Se eu morresse, morreria gostosa.

Porém não sou mulher e, infelizmente, não tenho paciência para zelar de mim próprio sendo homem. Não tenho disposição para frequentar academias e participar de competições como "a batata da perna mais cheia de veias", nem de ficar sem camisa em frente ao espelho, tirando fotografias, na tentativa de estampar o livro dos recordes como "o abdome mais definido do mundo".

Acordar é um ato definitivamente desgastador. Infelizmente, sou tolo e não consigo cerrar os olhos; prefiro me cansar e acordar para a vida.

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