sábado, 11 de junho de 2011

Bernardo Bonifácio Bernardes


Bernardo Bonifácio Bernardes mais parece um trava língua que um nome, por isso todos preferem chamá-lo de BBB. Era menor de idade, mas já tinha 18. Centímetros. Por isso tantas garotas já haviam passado por sua vida, as tão conhecidas ex-BBBs, que se orgulham por esse título.

O que poucos sabem é que BBB é trissexual: mulheres, homens e animais. Ele só não é pan porque, quando tentou se engraçar com uma árvore, ela lhe deu um cascudo. Mas quem levou a pior foi a própria árvore que continuou solteira e, mesmo assim, carrega galhos na testa.

Bernardo Bonifácio Bernardes pertencia ao grupo dos Amish — primeiro mandamento: nunca responder “saúde” após alguém pronunciar o nome do grupo. Amish, para quem não sabe, é o que pensamos só existir na televisão, em seriados americanos e filmes antigos. É uma comunidade religiosa muito conservadora, na qual se proíbem até os eletrônicos. É uma tribo de índios evangélicos.

O que torna BBB tão especial não é o fato de ele ser um Amish brasileiro, sem energia elétrica, sem rede de esgoto, sem telefonia — segundo mandamento: não confundir Amish com nordestino. Sua proeza está em ser mais esperto que os outros Amish.

Quando BBB era criança, tudo esteve bem, mas um dia ele se tornou adolescente e quis entender porque é que outros jovens neuróticos invadiam a floresta ao lado de sua casa para brincarem de vampiros e lobisomens — terceiro mandamento: sempre que for brincar, os vampiros e os lobisomens têm que ser norte-americanos, pois brasileiro não pode ter poder sobrenatural.

A mãe ficou put-amish da vida por ele ter saído da bolha imaginária e adentrado a mata e, como castigo, tirou o videogame, o computador, o celular, o iPod, o trinco da porta do quarto dele. Foi o pior castigo: não poderia fazer coisas, que precisaria fazer trancado, para passar o tempo — quarto mandamento: garotos Amish ainda são garotos e têm testosterona no corpo.

Bernardo Bonifácio Bernardes esticou-se no colchão de palha, olhando para a palha do teto cor de palha. Um dia completaria 16 e tão logo isso acontecesse abandonaria sua religião. Brincaria de vampiros e lobisomens até não poder mais. Enquanto isso, não acontecia, vivia a não-vida de um animal empalhado.

Rumspringa! O décimo sexto aniversário chegou e BBB estava preparado para dar início a seu Rumspringa, a fase em que ele deveria decidir se continuaria a ser Amish ou se abandonaria a religião. Foi desnecessário o cronograma que lhe criaram para refletir. Ele saiu de casa no mesmo dia — quinto mandamento: palha em excesso agiliza difíceis decisões.

Sentindo-se perdido em um mundo que não era dele, o mundo real, precisava de um lugar para ficar. Enquanto um turbilhão de novidades tomava conta de seu cérebro, uma socialite passou com seu conversível, fazendo rum-rum e acenando para ele — sexto mandamento: boa aparência e roupas exóticas são símbolos para garoto de programa.

Saiu com a primeira garota, não tinha nada a perder a não ser a inocência. Foram ao apartamento dela. A porta automática, o elevador, os lustres de cristal... tudo era novidade para ele e isso o deixava mais excitado.

Chegando a hora, ela o arrastou até a cama, que não era de palha, e começou a tirar a roupa. O garoto fechou os olhos, tímido, sem entender o que acontecia. Ela curtiu o papel interpretado pelo michê — sétimo mandamento: socialites que não fazem sexo há algum tempo têm fetiches absurdos.

Empolgada por estar liderando a situação, a garota rasgou com os dentes a camisa costurada a mão. Ele se sentiu envergonhado, pois jamais havia se exibido para alguém — oitavo mandamento: todos os banhos, ainda que sejam em riachos, devem ser tomados com roupa.

Ele se encolhia, vergonhoso. Ela delirava, entrando no clima. Ele começava a entender o que estaria prestes a acontecer e pareceu gostar — nono mandamento: mesmo que uma pessoa nunca tenha ouvido falar em sexo, ela saberá o que é isso.

Ao descer sua calça, BBB já estava armado. Aquela foi a primeira garota a ficar com aquele calibre 18 apontado para a testa. A surpresa também estava no naturalismo: de todos os gigolôs com quem já havia saído, este era um que não se depilava e não lhe lembrava em nada um garotinho de 10 anos. Nada mesmo.

Não era judeu, não tinha sido circuncidado. Agradeceu, inconscientemente, ao povo Amish pela sensibilidade em sua glande. Possuído pelo momento, ora foi vampiro, ora foi lobisomem, pela noite inteira. Bernardo Bonifácio Bernardes, a partir de então, passou viver seu lado humano.

Décimo mandamento: um garoto de programa ex-Amish, com talento de sobra, faz carreira antes de chegar à maioridade.

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