sábado, 13 de agosto de 2011

Tia Pereira

Baseado em uma lenda espanhola


Num povoado distante, mora uma senhora que cultiva peras. Ela é conhecida como Tia Pereira. Não há certeza sobre sua verdadeira idade, mas suspeita-se que ela deve ter uns duzentos ou trezentos anos.

Ela sempre morou sozinha. Não tinha dinheiro, nem família, não tinha nada na sua vida a não ser uma grande árvore de peras. E ela ficava muito irritada quando os jovens do povoado subiam na sua árvore para roubar suas peras.

Até que, um dia, uma menina perdida bateu em sua porta e lhe pediu algo para comer. Pegando a última pera que havia na árvore, Tia Pereira lhe deu.

Depois de comer a fruta e matar sua fome, a menina quis retribuir a generosidade da mulher e revelou:

— A verdade é que sou uma fada. E por você ter sido boazinha comigo, realizarei quaisquer desejos que você tenha.

Mas Tia Pereira só tinha um desejo: que quem subisse na pereira não pudesse descer sem sua permissão.

A menina-fada disse que o desejo seria realizado e, agradecendo pela pera, foi embora. Na primavera seguinte, quando as peras haviam aparecido novamente na árvore, os meninos foram apanhá-las, como sempre. Mas mal subiram e perceberam que não podiam descer. Eles ficaram desesperados, mas Tia Pereira resolveu lhes dar uma chance.

Permitirei que desçam, mas quero que antes me prometam que nunca mais subirão na minha árvore e não roubarão mais as minhas peras.

Os meninos, como haviam prometido, nunca mais voltaram. Só que, algumas primaveras depois, outra pessoa perdida bateu à porta de Tia Pereira, mas desta vez...

— Sou a Morte e vim levá-la.

Tia Pereira arrepiou de medo. Mas teve uma ideia.

— Está certo! Eu aceito ir com você. Mas, antes, lhe peço um último desejo. Por favor, me deixe desfrutar de uma das minhas peras pela última vez.

A Morte chacoalhou a cabeça, pensou um pouco, resmungou, mas deixou que ela realizasse seu último desejo. Tia Pereira, então, fez mais um pedido.

— Por favor, suba nesta árvore e pegue uma pera para mim, porque já estou muito velha e não consigo subir sozinha.

A Morte subiu na pereira e colheu uma pera. Mas, quando foi descer, percebeu que a árvore estava enfeitiçada.

Assim, passaram alguns anos sem que ninguém morresse no povoado. No começo, tudo ia bem, só que, depois de um tempo, a coisa ficou sem graça. Médicos, padres e coveiros reclamavam porque não podiam praticar sua profissão. Também tinha muita gente velha que já tinha se cansado de sua vida e queria morrer.

Tia Pereira, então, teve compaixão e fez um acordo: permitiria que a Morte descesse, desde que esta a deixasse viver para sempre.

Por isso, Tia Pereira está viva hoje e continuará viva eternamente.

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