sábado, 12 de novembro de 2011

O Sequestro do Coelhinho da Páscoa



A Páscoa era o feriado mais ovacionado pelas pessoas. Todos aplaudiam de pé quando o Coelhinho aparecia, pulando, com sua cestinha recheada de chocolates. Chocolate ao leite, chocolate branco, chocolate com amêndoas, tantos eram os tipos que a língua se afogava em saliva só de imaginar.

Era Sexta-Feira da Paixão quando um telegrama anônimo passou por baixo da porta de Rafaell, o detetive de óculos triangulares. O bilhete era aterrorizante e dizia o seguinte: “Sequestramos o Coelhinho! Ligue para 0800-777-PÁSCOA e obtenha mais informações.”

Rafaell, o detetive de óculos triangulares, se desesperou. Sem Coelhinho, sem ovos, sem Páscoa. Pensou em pagar o resgate, mas, além de não ter dinheiro, nem sabia qual era o valor do resgate. Sua única opção era telefonar para o número informado.

No terceiro toque, uma gravação atendeu: “O Coelhinho continua em cativeiro. Corra até a aldeia indígena mais próxima e obtenha mais informações.”

No mesmo instante, Rafaell, o detetive de óculos triangulares, saiu em uma correria tão grande que quase perdeu um L do nome. Entrando na aldeia, encontrou com a filha do cacique, que dançava ao som de um samba indígena. A conversa entre os dois pareceu uma peça teatral.

RAFAELL: O que é que você está fazendo?

ÍNDIA: Índia Raio-de-Sol ensaiar carnaval.

RAFAELL: Carnaval nesta época do ano?

ÍNDIA: Pra índio, tudo motivo de festa.

RAFAELL: Índio também tem escola de samba?

ÍNDIA: Sim, Índia Raio-de-Sol ser Tacape de Ouro. Mas sempre perder pra Cocar Verde e Cachimbo da Fiel.

RAFAELL: E o que tanto vocês dançam?

ÍNDIA: Samba da Paz, Conga da Tanga e Funk da Taba Protegida. Agora, ensaiar Swing Oca-Oca.

RAFAELL: E você não tem nenhuma dança que faça coelhos sequestrados se libertarem?

ÍNDIA: Hum... Ter a Dança da Fugidinha... Mas ela ser perigosa.

RAFAELL: Perigosa como?

ÍNDIA: Ter efeitos colaterais.

RAFAELL: Que tipo de efeitos colaterais?

ÍNDIA: Se você soltar um coelho, você comer muito chocolate, você engordar, você ter espinhas, você esquecer até que Páscoa ser muito mais do que ovos.

RAFAELL: Eu topar! Digo, eu topo! O que mais quero é salvar o espírito pascoal, mesmo que isso seja arriscado.

ÍNDIA: Então, vamos brincar de índio.

Índia Raio-de-Sol e Rafaell, o detetive de óculos triangulares, dançaram, rebolaram, saltitaram e se descabelaram, mas aquilo não estava funcionando. Foi então que ele reparou na lança que Raio-de-Sol tinha nas mãos.

Não era uma lança de madeira comum, e sim de cenoura. E, na cenoura, estava escrito em letras bem pequenininhas: “Prendemos o Coelhinho no porta-malas. Ele ficará no carro até que a Páscoa acabe.”

Rafaell, o detetive de óculos triangulares, voltou para casa se sentindo péssimo por ter fracassado. Havia tantos carros no mundo que jamais encontraria onde o Coelhinho estava escondido.

A Sexta-Feira Santa passou, o Sábado de Aleluia também, mas quando chegou o Domingo de Páscoa, Rafaell, o detetive de óculos triangulares, entendeu a charada. Se havia carros que mereciam destaque naquela semana, com certeza eram os carros alegóricos do carnaval dos índios.

Dessa vez, saiu ainda mais rápido de sua casa, tanto que perdeu metade do nome. Chegou à aldeia sendo apenas Rafa, mas era tarde: o carnaval já havia começado e os carros estavam na avenida.

Rafa, o dete de ócu triang, não desistiu e se enfiou no meio do desfile. Bateu em plumas, se atrapalhou nas fantasias e quase caiu sentado em uma rede que estava no caminho, mas não conseguia chegar perto dos carros alegóricos.

Mais uma vez, ele se sentia triste até uma pessoa vir consolá-lo.

— Papai Noel?!

A pessoa tirou a máscara de Papai Noel e revelou que era apenas a Índia Raio-de-Sol fantasiada. Ouviu o desabafo do seu amigo investigador e decidiu ajudar.

— Deixar comigo! Mim fazer a Sacolejada que Para Desfile e Revela Vilão.

A índia dançou, rebolou, saltitou e se descabelou, e desta vez tudo funcionou. O desfile parou, os carros estacionaram e as pessoas ficaram como estátuas. Apenas uma continuou se mexendo: o Coelhinho.

Vendo que ele era o alvo das atenções, correu para não ser desmascarado. Subiu, desceu, virou à esquerda, mas, como a aldeia era pequena e circular, ele ficou dando voltas até se cansar.

Rafaell, o detetive de óculos triangulares, já havia recuperado o fôlego e o nome e, agora, tentava entender porque é que o Coelhinho havia inventado o próprio sequestro. Raio-de-Sol, então, mostrou que o Coelhinho era somente uma fantasia.

Puxaram a máscara do falso Coelhinho e revelaram a face criminosa do sequestrador: era o Papai Noel, o verdadeiro.

— Mas... Por quê? — Ninguém entendia o motivo da maldade.

— O Natal sempre foi o feriado preferido das pessoas, até que esse Coelhinho apareceu e transformou a Páscoa em algo mais doce. Até me vesti de vermelho, a cor do amor, mas as pessoas ovacionavam a Páscoa e já não tinham a mesma empolgação para o Natal. Assim, decidi que, neste ano, não haveria chocolates na Páscoa e as pessoas seriam obrigadas a esperar pelo presente no Natal.

Enquanto o Papai Noel falava, o Coelhinho era libertado de um trenó-alegórico fantasiado de carro. E ele já chegou falando:

— Do que é que você está reclamando? Você é muito mais adorável do que eu.

— Está louco? Todos preferem um coelho bonitinho e fofinho a um velho gordo.

— O louco é você: todos gostam mais de um senhor bonzinho e amigável do que de um mamífero com anormalidade de botar ovos.

— Mas seus ovos são muito mais gostosos que meus presentes.

— Seus presentes é que são mais mimosos que meus ovos.

— Seus ovos adoçam a vida!

— E seus presentes duram toda a vida.

E a falação prosseguiu, até que Rafaell, o detetive de óculos triangulares, interrompeu a conversa com um comentário desconcertante.

— Vocês dois são tão bobos... Enquanto discutem qual é o feriado que as pessoas mais gostam, se é o Natal ou a Páscoa, todo mundo está curtindo mesmo é o Carnaval.

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