sábado, 3 de dezembro de 2011

Cartas de Tati Bitate II - A Ernesto Che Guevara



Sudeste brasileiro, 13 de junho de 2011.

Aos cuidados do senhor Ernesto Che Guevara:

¡Hola, Che!
(Sabia que, até ontem, eu pensava que você era gaúcho? É porque, no Rio Grande do Sul, todos falam num tal de tchê).

Hoje, o aniversário é do Fernando Pessoa, 123 anos revolucionando a poesia, e eu resolvi escrever para você, que há tanto tempo revolucionou tudo quanto é canto. Às vezes penso se é coincidência ou se isso aconteceu porque, na minha lista oculta de destinatários, o nome Guevara vem antes do Pessoa.

Ouvi seu nome já há algum tempo, mas não fazia ideia de quem você foi. Talvez não faça muita ideia ainda, já que tive contato apenas com um livro de História que fazia referência a você. Foi na manhã de ontem quando, entre uma aula de Português e outra de História, decidi ir à biblioteca da escola.

Cheguei lá e pedi logo de cara para a monitora: quero um livro de História Contemporânea, que aborde, entre outros fatos, a Revolução Brasileira de 1964. Não preciso nem dizer que a mulher quase caiu de costas e até me desprezou, dizendo que eu, com 11 anos e na 6ª série, era muito nova para esse tipo de leitura, que não leria nem metade do livro que havia lá, que não entendia esse meu desejo insólito de querer um livro do tipo.

Veja se não é um desleixo dela esse tipo de atitude. Será que ela não sabe que eu assisto novelas? Pois, aqui no Brasil, está sendo exibida uma que se passa no período ditatorial. Tem algumas cenas fortes, mas uma história de amor linda no fundo. Acho que isso é a tal da coisa chamada antítese, que a professora Graziele falou na semana passada e eu achei que fosse algum tipo de remédio para gripe.

No fim das contas, sob acusações e desconfianças, consegui retirar o livro. Era um livro grosso, tipo aquele descrito pela Clarice Lispector no seu conto Felicidade Clandestina. Eu fui com sede para lê-lo e, assim, abri a primeira página.

A mulher da biblioteca tinha toda razão: ô livro chato! Com um palavreado todo culto e científico, nada a ver com literatura, ele começa com uma introdução aborrecedora sobre algo que até agora não sei o que é. Para mim, as palavras não tiveram nenhum nexo.

Fiquei pensando como é que pode um livro parecer tão interessante e, na hora de ler, ser um porre. Talvez seja esse negócio de antítese, que parece estar na moda.

O resultado foi que vi apenas as ilustrações e, num capítulo sobre Revolução Cubana, seu rostinho estava estampado. Com toda sinceridade, você realmente tem cara de revolucionário, desses que agita a maior galera para conseguir obter aquilo que lhe é de direito, ou para elaborar novos direitos.

Mas, pela rápida passada de olho que dei, você é um revolucionário do bem. Não é como o Hitler, que só gosta dos loiros, nem como Getúlio Vargas que, segundo a novela, fez o maior auê aqui no Brasil, impedindo as pessoas de expressarem suas opiniões e impondo que a vontade dele fosse realizada.

Você é do tipo Jesus Cristo, que uniu as pessoas para uma coisa boa para elas, que tentou derrotar a elite e lutou pelos mais fracos e sensíveis, que ouviu a voz do povo. Você foi o Salvador Cubano, e sua atitude refletiu aqui no Brasil, que hoje é uma democracia agradável (com algumas pequenas antíteses a serem consertadas).

Por isso, finalizo esta carta dizendo que, mesmo conhecendo pouco sobre você, você já está na minha lista de heróis.


Um beijinho cordial da sua jovem admiradora,
♥♥♥ Tati Bitate ♥♥♥

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