sábado, 28 de janeiro de 2012

Romance em Cordelaranja

Menção Honrosa no 8º Prêmio Barueri de Literatura


Começo em “era uma vez”
Essa história de Qiü Jia,
Descendente de chinês
Que morava na Bahia
E que, em toda sexta-feira,
Vende laranjas na feira
Para ajudar a família.

Com seu típico bigode
E sua pele amarelada,
Jamais amarrava o bode;
Tinha a risada estampada.
Vinte e dois anos de vida
E a simpatia contida,
Atraía a mulherada.

Na barraquinha da frente,
Moça de nome Apuana
(De indígena, descendente,
Mas soteropolitana)
Vendia abóboras boas
Que agradavam as pessoas
Pelo seu sabor bacana.

Toda sexta, tinha gana,
Portanto, ele anunciava:
— Seleta, lima, baiana...
(Da baiana, ele gostava)
— Tudo, tudo baratinho
E com sabor bem docinho
Para donzela ou escrava!

Também nesta mesma feira,
Ela, logo na subida,
Vendia de tais maneiras:
Assada, frita ou cozida.
Tinha abobrinha e moranga
Praquele que não se zanga
Porque saboreia a vida.

Esta jovem e este moço
São casal por natureza.
Ela, oferecendo o almoço;
Ele, dando a sobremesa.
Abóboras e laranjas:
Felicidade se esbanja!
Até que houve uma peleja.

O chinês quis divulgar
Uma receita mineira:
— No forno, vamos assar
Pato com laranja-pera!
Nisso, a abóbora perdeu,
Pois ao povo apeteceu
Essa mistura maneira.

Possessíssima de raiva,
Pele-vermelha estressou.
Ousada que nem saraiva,
Uma delícia inventou:
— Provem do doce de abóbora,
Pois garanto que não sobra
De gostoso que ficou.

Os fregueses não sabiam
De quem ou o que comprar
Se abóbora consumiam
Ou laranja, no jantar.
Deu-se, assim, a grande briga
Entre o amigo e sua amiga
Que passaram a se odiar.

Qiü Jia teve a batuta
Oferta comercial
Para ir vender suas frutas
Lá do lado oriental.
Tomou logo a decisão:
Embarcou num avião
De voo internacional.

Salvo a cesta de legumes,
Apuana está sozinha.
“Sem a faca de dois gumes,
Não se corta uma abobrinha.”
Dessa forma, a freguesia,
Sem ter opção, preferia
Comprar quilos de farinha.

E os negócios iam mal
Com as laranjas na China.
Não gostavam, nem com sal,
Mandaram pra Cochinchina.
Preso no Inferno de Dante,
Pensou: “Neste mesmo instante,
Volto pra minha menina!”

Acredite: houve até canja
Para o encontro entre esses dois.
Romance cor-de-laranja,
Protagonizaram, pois,
A indiazinha e o chinês.
No lugar de “era uma vez”,
É melhor: “uma vez foi”.

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