sábado, 4 de maio de 2013

Em centímetros e polegadas



De que adianta terem inventado o famoso ditado que diz que “tamanho não é documento” e, posteriormente, a analogia de que “se tamanho fosse documento, o elefante seria dono do circo”, se menino não acredita em nada disso? A maioria nem toca no assunto, mas mantém em sigilo a preocupação de, se um dia, conseguirá urinar no vaso estando em pé na porta do banheiro.

A puberdade mal toca a campainha, e o garoto já fica todo no estica-e-puxa para saber se o pinto vai crescer logo. Na primeira ereção em que ele está sozinho em casa, corre pegar uma fita métrica para saber qual seria o número da camisinha, se ela fosse vendida como os calçados. Põe a fita em cima, embaixo, do lado, “rouba” alguns milímetros e, mesmo assim, não se contenta com o resultado que não lhe parece um número muito alto.

Como ainda não tem muita noção de qual é a média do tamanho, usa a internet para descobrir: imagina-se como o africano, ri do japonês e, depois, fica constrangido ao saber que os homens do Brasil não ficam muito além dos do Japão. Pelo menos, depois disso, ele já tem um valor fixo, uma meta que precisa atingir o mais breve possível, pois senão a adolescência acaba e ele não se contentará com o resultado final.

Sempre que pode, ele olha para o lugar e tenta medir com o olho, para saber se cresceu. Tem a impressão de que seu pequeno Pokémon está sofrendo um processo de evolução e torna a pegar a régua, mas o tamanho é o mesmo. Converte em jardas e polegadas, mas os números obtidos ainda parecem insuficientes para fazer a alegria da garota que ele quer pegar.

Chega uma hora, então, que a mente mergulha tão profundamente no mar da curiosidade que ele resolve comparar. Sabe que o vestiário não é o lugar mais aconselhável, já que, nos chuveiros, está todo mundo com o pinto mole e assim não dá para ter ideia de nada; por isso, usa novamente a internet. Vê fotos de revistas e visita sites que promete nunca mais entrar — exceto quando outras dúvidas surgirem.

O cara do filme pornô que parece uma tora e o galã da capa do mês de agosto que poderia ser louvado por aborígenes adoradores da Grande Mandioca, entretanto, não são boas referências: primeiro porque são modelos contratados com foco unicamente nisso; segundo que um editor de imagens pode ter aumentado as coisas. O garoto precisa ver fotos de gente normal e roda o site de busca até se encontrar com um site em que os usuários colocam as fotos para que o visitante avalie.

Sem pensar muito — não há cabeça para isso no momento —, ele se passa por maior de idade, fingindo ter cinco anos a mais do que realmente tem, e cria uma conta. Levanta-se da cadeira, abaixa o short e direciona a webcam num ângulo que favoreça os países baixos. Registra a imagem e publica a foto com o pseudônimo gatinho_teen13. Fica meio receoso, com medo de ser descoberto, mas atualiza a página de dez em dez minutos.

As notas começam a ser dadas e surge o primeiro comentário: “Delícia, hein?! Chuparia todinho!” Não sabe de quem foi nem de onde veio, mas isso é o que menos importa. As palavras, mesmo xucras, fazem o garoto se sentir com uma arma superpoderosa entre as pernas. Antes de excluir a foto e negar até a morte o que havia feito, pega a régua novamente e, misteriosamente... parece que, enfim, aumentou meio centímetro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário